quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A fé remove uma montanha de verdades


Já que a moda é inventar leis que proíbem, bem que poderia ser criada uma lei que proibisse falar de pessoas que já morreram, pelo simples fato de que elas não podem se defender de acusações nem refutar atribuições pessoais feitas a elas pós-morte.

 Como primeiro exemplo dos que têm sua imagem distorcida pela facilidade que outros têm de propagar mentiras, podemos tomar Jesus Cristo. Não se tem nem mesmo conhecimento de que ele tenha escrito uma só palavra a respeito dele próprio. Como disse Voltaire em "Catecismo do Homem Honesto", que não questiona a existência do homem, mas analisa os relatos sobre ele, é muito provável que Jesus nem soubesse ler ou escrever. Jesus nunca disse que era Deus; nunca disse que sua mãe era mãe de Deus; nunca disse que seus seguidores podiam comer carne de porco, etc. Mas existe tantas afirmações que definem seu caráter e tantos atributos conferidos à sua personalidade que alguns podem até acreditar que ele era mesmo Deus e esperar eternamente seu retorno à Terra. Se é para ridicularizar, qualquer um também pode afirmar que, se Jesus pudesse mesmo voltar à Terra, vomitaria na cara delas todas as palavras que essas pessoas colocaram na boca dele. 

Outro exemplo bem conhecido de vítima da maledicência é Hitler. Durante muito tempo depois de sua morte, as pessoas afirmaram que o ditador alemão era ateu. Nessa época, em que os Estados Unidos da América consolidavam a demonização dos ateus no ocidente, relacionando-os com as forças do mal, algumas pessoas tinham tanto horror do ateísmo que não ousavam sequer falar sobre o assunto, o que custou mais de sessenta anos de atraso no desenvolvimento intelectual de alguns povos, especialmente os da América Latina. Não é de se espantar que, de modo similar, ainda hoje o preconceito contra os ateus se evidencia quando simplesmente por estudar a filosofia marxista, o indivíduo ganha imediatamente o estatus de "comunista ateu", ficando relacionado agora com o lado obscuro do regime esquerdista. Fingem ignorar esses supervisores da identidade alheia, que nosso "governo de esquerda" foi eleito pela gritante maioria católica do país. O mais intrigante ao observar o poder que a credulidade tem de eternizar a maledicência, é que ainda hoje, com documentos que provam o envolvimento e o apoio da Igreja Católica ao Nazismo; com as frases ditas pelo ditador que explicitavam sua crença em Deus, os religiosos continuam afirmando que Hitler era ateu. Na intenção de piorar a expectativa dos religiosos sobre os males causados pelo ateísmo, há até boatos de que cientistas-ateus-satânicos teriam clonado Hitler. Se é pra inventar, os mais sensatos também podem afirmar que se Hitler tivesse realmente sido clonado, certamente seu clone agora promoveria a matança de católicos por terem denegrido sua imagem de bom cristão. 

Mais um exemplo de morto ultrajado pelos oportunistas é o do cientista Albert Einstein, que se tornou a figura mais disputada entre teístas e ateus para atuar como representante de seus conceitos e dar credibilidade às suas intenções. O que se pode dizer com certeza sobre o nobre cientista é que ele não quis revelar suas convicções particulares, pois jamais se declarou teísta ou religioso e nem ateu. Prato cheio para os oportunistas religiosos, que até criaram uma campanha na televisão que tentava mostrar "provas" de que Einstein acreditava em Deus. Se é para dizer besteira, qualquer um pode também afirmar que se o cientista voltasse no tempo, mostraria a bunda em vez da língua a esses hipócritas.

Sabemos que nossa utópica lei não evitaria a maledicência, pois, infelizmente, tem uma coisa que lei nenhuma obriga: "ter vergonha na cara". Muito menos pode-se esperar que todos se preocupem com as mentiras que propagam, mas bem que se podia esperar que mesmo sem serem obrigados, todo professor, todo jornalista e todo formador de opinião, tivessem a dignidade de se responsabilizar pelo que dizem. 

Postado por
#SR

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