quarta-feira, 11 de março de 2015

O AIATOLÁ DACIOLO


O Rio de Janeiro elegeu o cabo Daciolo, líder da greve dos bombeiros em 2011, que colocou a população contra o ex-governador Sérgio Cabral Filho. Ele foi eleito pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), um partido que se declara de esquerda, seus filiados citam Marx e Trotsky a todo momento. E foi justamente nesse partido que sempre enfrentou os fundamentalistas que ingressou o Cabo Daciolo, assumidamente pentecostal -- durante a greve dos bombeiros, ele comandava os bombeiros, que davam voltas em torno do prédio da Assembleia Legislativa do Rio imitando o episódio bíblico da batalha de Jericó (livro de Josué). Isso eu vi.

E para surpresa de todos, ele diz uma asneira tão grande que nem Feliciano ousaria dizer: ele quer mudar o artigo primeiro da Constituição Federal, alegando que o poder não emana do povo, e sim de Deus: "Vamos apresentar uma Proposta de Emenda à Constituição para alterar a redação do parágrafo único do artigo 1° e afirmar que todo o poder emana de Deus, que o exerce de forma direta e também por meio do povo e de seus representantes". Bem, nunca, nas aulas de História do Brasil, me disseram que Deus tivesse aberto o rio Ipiranga para que D. Pedro atravessasse sem se molhar e proclamasse a Independência.
O que Daciolo pretende? Proclamar uma teocracia? O modelo mais semelhante ao que ele advoga não é sequer a teocracia britânica (sim, o Reino Unido é uma teocracia: Elisabeth II ostenta os títulos de "Rainha pela Graça de Deus" e "Defensora da Fé", é chefe absoluta da Igreja Anglicana, o primeiro-ministro tem que ser anglicano (quando terminou seu mandato, Tony Blair mudou-se para a Igreja Católica) e os ministros, quando tomam posse, seguram a Bíblia na mão direita e beijam a mão de Sua Majestade -- porém, lá não há bancada fundamentalista, o aborto é legalizado desde 1967, os LGBTs têm plenos direitos e o rosto de Darwin anda em moedas e cédulas -- ou seja, no dia a dia eles são mais laicos que nós, embora nossa Constituição diga o contrário), mas a teocracia saudita. Na Arábia Saudita não há partidos políticos nem Parlamento: há apenas a vontade do rei, descendente de Maomé, que reina sem que ninguém lhe ponha limites.

Se Daciolo acha que todo o poder emana de Deus deveria, para ser coerente, renunciar, pois foi eleito por eleitores de carne, osso e título eleitoral e não por anjos, eleito para representar o povo e não Deus. E fique orando até que os partidos e o Parlamento sejam substituídos por um herdeiro de Deus.

Assista ao vídeo onde Daciolo menciona a tal PEC aqui:
https://www.facebook.com/video.php?v=288543704602897

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