sábado, 8 de agosto de 2015

O Ministério da Saúde não adverte a opinião pública



Opinião pública, de certo modo, é a expressão da sociedade que legitima conceitos éticos e morais que se tornam premissas para o debate público.
Um método comum usado para conhecer a opinião pública é a pesquisa individual onde se oferece alguns itens entre os quais o pesquisador deve escolher um que represente sua opinião. Fácil supor que as proposições apresentadas não representam a realidade das opiniões individuais dos cidadãos visto que não se encontrará todas as opiniões possíveis entre os itens relacionados. Contudo, a opinião da maioria do pequeno grupo entrevistado, vai representar a opinião da grande maioria da população.
O resultado da pesquisa, isto é, o item vencedor, será um resumo poderoso do pensamento corrente para a argumentação do indivíduo na defesa de uma ideia. Um círculo vicioso que se alimenta a si mesmo ad infinitum.
Em outras palavras, o indivíduo adquire um senso moral modelado pela opinião pública e forma sua opinião baseado em boatos que circulam alegremente na polifonia social, no grande berrante midiático repetindo sem cessar a opinião que todos devem ter a respeito de um assunto sobre o qual a grande maioria não sabe absolutamente nada.
Essa espécie de sugestão hipnótica vai unificar o pensamento da população reduzindo os conflitos interpessoais e garantindo a paz social. Teoricamente.
Obviamente aquele indivíduo não alcançado pela “programação” estará destinado à marginalidade e será acusado de anarquista ou reacionário por não concordar com a maioria, portanto, um inimigo da paz. Enfim, esse é só um problema isolado que não deve abalar a tranquilidade da maioria unificada.
É, portanto, baseadas na opinião pública que muitas pessoas emitem suas opiniões e quanto mais apaixonadas ficam pela ideia que defendem, tanto mais trabalharão no sentido de divulgá-la. É a tenacidade desses “publicitários de plantão” que os leva a dizer, entre outros absurdos, que se a homeopatia não funciona para uma pessoa, certamente tem algo errado com aquela pessoa e não com a homeopatia.
Para premiar a sociedade por seu esforço para perpetuar os mitos que a amansa, seus patrocinadores instituem o Dia Nacional da Homeopatia, numa campanha em que o Ministério da Saúde dá sua inestimável contribuição. Os anúncios lançados pelo órgão público traduzem a ideia da natureza suave do medicamento e, desse modo, corrobora o desejo de uma vida mais saudável, termo este já consagrado pela opinião pública como uma meta a ser alcançada por todos.
Um excelente meio de demonstrar o cuidado do Ministério da Saúde para atender os anseios da população.
Imensamente grata pelo gesto carinhoso e enlevada pelo romantismo que envolve a publicidade, a opinião pública não ousará perceber que promover um remédio cuja eficácia jamais foi comprovada pela Medicina é um ato de má-fé; de uma imoralidade repugnante.
O investimento do Ministério da Saúde na divulgação da pseudociência não é só um gesto ofensivo à comunidade científica, mas prejudicial a todos os seguimentos da sociedade, pois colabora para que a verdade permaneça refém dos fazedores de opinião alheia.

Postado por
Silvia Reis

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